29 de setembro de 2022

Paprium [Limited Edition]

Excelente artwork!
Desenvolvido por: WaterMelon
Publicado por: WaterMelon
Director: Gwénaël Godde
Designer: Gwénaël Godde
Artista(s): Andrew Bado, Luis Martins, Tim Jonsson
Compositore(s): David Burton, Trevin Hughes
Plataforma: Sega Mega Drive
Lançamento: 16-12-2020 (Lançamento Mundial)
Género: Beat 'em up
Modos de jogo: Modo Arcade de um a três jogadores, Modo Original de um a dois jogadores, Modo Arena de um a quatro jogadores
Media: Cartucho de 80 Mbit
Funcionalidades: Suporte para comando de seis botões, funcionalidades extra com 32X e MegaCD, MegaWire 4.0 para supostos updates via internet.
Estado: Completo
Condição: Impecável
Viciómetro: Acabei-o pelo menos umas 20 vezes, sendo que 15 foram no modo Original para desbloquear tudo e outras tantas no modo Arcade.

Info pertinente atrás.

Para algo completamente inédito aqui no blog e como não publicava nada há já algum tempo, trago-vos um dos jogos que mais tinta fez correr por essa internet fora, desde o seu desenvolvimento atribulado, passando pelo estado de vaporware a dada altura e claro, o seu lançamento quase assim do nada quando já ninguém tinha esperança nenhuma que isto fosse lançado. Mas o inédito não é nada disto mas sim o facto deste jogo não ser meu e logo não fazer parte da colecção. Contudo, considero que isto é um bocado de história bem interessante na longa vida da Mega Drive que ainda hoje agita águas (e de que maneira nestes últimos anos). Portanto, pedi este exemplar emprestado ao meu amigo Gonçalo Gonçalves, mais conhecido por St1ka nas netes que gentilmente mo cedeu para que pudesse ver qual era o alarido em torno do mesmo. Para meu espanto, deparei-me com algo mais do que um simples jogo homebrew.

Exemplar 1201 de 1990.
Esta Limited Edition vem numa espécie de digipak onde para além do jogo numa shell lilás se inclui ainda um manual de instruções de consideráveis dimensões com muita informação, panfletos promocionais alusivos a este e outro jogo, dois postais (um deles é do Pier Solar, outro jogo da WaterMelon), autocolantes e ainda um poster/mapa. No geral a qualidade dos materiais é excelente mas algumas escolhas foram no mínimo dúbias. O cartucho por exemplo vem dentro de um blister semelhante ao de uma caixa de comprimidos o que obriga forçosamente a rasgar a película para o retirar. Por outro lado, a caixa em si não tem nenhuma espécie de suporte externo em plástico como por exemplo uma sleeve pelo que não se aguenta na vertical e obriga a que esteja dentro da caixa de plástico onde vinha (que também não se aguenta em pé). A qualidade da PCB também é bastante boa ainda que a solução para ocultar os chips tenha sido no mínimo estúpida pois utiliza uma placa de metal que supostamente serve para dissipar o calor dos mesmos e vinha solta visto o blob que usaram para a fixar não ter aderência suficiente. Existe ainda um jack para ligar um fio denominado Mega Wire 4.0 que segundo o manual de instruções permite updates (via internet ligado a um computador) e quem sabe conteúdo extra. Mas tudo isso pode ser aquilo a que se chama fugazi...

Cartucho e blister.
Paprium é um jogo simples: um beat em up ao bom estilo dos anos 90, com muita atitude irreverente e cheio de estilo (ou pirosice que preferirem) que presta homenagem a muita coisa daquela época, sobretudo filmes e outros jogos. E isso começa logo pelas cores contrastantes, usadas não só no jogo mas também no packaging bem como a artwork e afins. A história é igualmente simples onde a acção decorre na cidade ficcional com o mesmo nome situada algures entre Tokyo, Shangai e Pyongyang no ano 8A2 (que convertido do hexadecimal dá 2210) depois de uma guerra nuclear. Escusado será dizer, que o crime reina e há gente estranha e medonha por todo o lado. Cabe-nos a nós enquanto uma das 3 personagens, Alex, Tug e Dice, levar a justiça até às ruas.

Autocolantes e postal.
Visualmente Paprium é um verdadeiro monstro, no bom sentido. O grafismo é bastante colorido, com muita coisa a contrastar com os cenários, onde podemos ter imensos inimigos em simultâneo no ecrã sem slowdown e praticamente pouco ou nenhum sprite flicker. Os sprites são também de dimensões bastante grandes para a Mega Drive, coisa que não me lembro de ver em muitos jogos do género. Em termos de efeitos visuais, temos parallax scrolling com fartura e até sprite scalling em certas ocasiões que é algo que sempre gosto de ver em jogos desta era. A variedade de cenários e inimigos é também impressionante com muito para apreciar e easter eggs engraçados um pouco por todo o lado. Algo que achei menos impressionante foi a animação tanto das personagens como dos inimigos onde a coisa parece um bocado a tender para o amador. Em certas instâncias contei entre dois a três frames de animação em certos movimentos e creio que é isto que torna o jogo no geral um bocado janky como se diz na gíria. Mas isto não é algo mau a meu ver e é precisamente o que me faz apreciar mais este jogo.

Manual e panfletos.
Na componente sonora, Paprium tem uma boa banda sonora embora não aprecie todas as faixas que podemos ouvir ao longo do jogo. Algumas são bastante boas e certamente memoráveis, outras sinceramente não me deixam saudades. Contudo algo interessante acerca da música é que vai mudando de pitch ou introduzindo outras alterações consoante algumas situações. Por exemplo quando temos pouca vida fica ligeiramente mais lenta ou quando usamos um comprimido de Blu torna-se mais intensa. E pode ainda aparecer o Sexy Sax Man, uma personagens que se limita a caminhar pelo ecrã a tocar saxofone, cujas notas são integradas na música. Um toque de génio a meu ver. Os efeitos sonoros são bastante bons, com muitos gritos e grunhidos, bem como imensos samples de vozes que podemos ouvir ao longo do jogo todo, especialmente os proferidos pelo Showtime, outra personagem carismática.

O poster com as três personagens principais.
Paprium é daqueles jogos que quando comecei a jogar não achei nada de especial mas à medida que ia jogando mais e mais, a coisa tornou-se melhor. Aconteceu-me o mesmo com o Streets of Rage 4 (a analisar futuramente). A jogabilidade é diferente de todos os outros beat em ups que joguei até hoje embora a base seja a mesma: bater em tudo o que mexe. Contudo existe aqui uma jankiness que referi acima ligada também à animação das personagens que torna o jogo imensamente divertido ainda que por vezes isso possa jogar contra nós. Bater nos inimigos é satisfatório o suficiente, mais ainda quando podemos bater em três ou mais em simultâneo e até atirá-los uns contra os outros. Melhor é o facto deles próprio baterem uns nos outros quando são de facções opostas (por exemplo polícia vs scums). E mesmo quando não são, existe fogo cruzado logo podem magoar os próprios companheiros. Neste aspecto o jogo é impecável e dá para fazer coisas hilariantes (como montarmos inimigos e usarmos os mesmos para marrarem nos outros). Contudo, a hit detection por vezes é um bocadinho má mas no geral creio que nos favorece durante a maior parte do tempo, sobretudo nos bosses onde a jankiness parece intensificar-se. O controlo é bastante intuitivo seja com um comando normal ou de 6 botões, ainda que este último seja o ideal pois separa as acções pelos botões todos, tendo assim um dedicado para defender, outro para usar o ataque do "castigo" (quando os inimigos estão a ver estrelas) e ainda um para arremessar a arma que tivermos em mãos. O botão Mode serve para usarmos o Taunt ainda que não saiba ao certo para que isso sirva em termos de utilidade. No comando normal, esta acções extra conseguem-se em conjunto com o D-Pad. E como é óbvio, existe um botão de ataque, outro de salto e ainda um para usarmos os comprimidos Blu, que nos dão invencibilidade parcial e um ataque que dá muito mais dano por tempo limitado. Estes comprimidos podem causar dependência se usarmos dois de seguida, com efeitos adversos após o efeito terminar. Isto explica a parte azul na barra de energia que nos debilita o ataque e até o movimento.

E o mapa da cidade.
As 3 personagens disponíveis inicialmente são suficientemente diferentes entre si para serem únicas e proporcionarem uma experiência diferente, sendo que gostei de todas sem excepção, algo raro neste tipo de jogo onde favoreço as equilibradas ou as mais rápidas. Aqui qualquer uma é excelente, mas algumas adequam-se mais a certos níveis do que outras. Alex por exemplo é óptima para qualquer situação mas requer mais hits para derrotar os inimigos. Dice é o meio termo com bom dano/defesa/velocidade. Tug é o tanque, com força bruta mas mais lento e um recovery time mais demorado. Existem ainda mais personagens desbloqueáveis que a meu ver são ainda melhores que as iniciais o que nos leva aos modos de jogo que Paprium nos apresenta.

Até na PCB o Showtime aparece!
Isto leva-nos aos modos de jogo. Inicialmente o modo Arcade só tem uma rota aberta pelo que temos de ir jogando o modo Original, que é uma espécie de Role Playing Beat em Up onde começamos no mesmo sítio mas podemos seguir diferentes caminhos a dada altura. Isto leva-nos a novos níveis e bosses, bem como inimigos e segredos por descobrir (existem dois níveis bem especiais que nem sei como a WaterMelon não levou com um processo em tribunal). Em cada rota há um boss e final diferente à espera, sendo que podemos depois colocar a nossa personagem no trono dessa zona. Ao chegarmos lá novamente com outra, a personagem que "manda" na zona dá-nos uma missão para concluirmos até a um máximo de 3 por zona (9 no total). Só assim podemos ver o final bom ao concluir tudo isto e a quarta rota que nos leva ao verdadeiro boss final do jogo. Se quisermos ver o final mau, basta apenas completar 6 missões que não sejam as da polícia. O final incerto é o pior de todos e basta não completarmos nada e irmos directos à quarta rota. Se fizermos Game Over neste modo somos recambiados para outro starting level no mapa, normalmente o centro de reabilitação, mas depende da zona.

A parte frontal da PCB.
No meio disto tudo, consoante o progresso que fizermos (inicialmente é um pouco confuso sobre o que fazer pelo que recomendo um guia), desbloqueamos novas rotas no modo Arcade, o modo Arena (que suporta até 4 jogadores), 4 novas personagens jogáveis (todas elas bosses, sendo que um deles só dá para usar na Arena) e outros extras como sound test e afins. Obviamente algumas destas coisas podem ser desbloqueadas via códigos mas nem todas. A dificuldade do jogo é na maior parte do tempo equilibrada mas por vezes há situações muito cheap com inimigos a amontoarem-se e a atingirem-nos sem dó nem piedade (não temos frames de invencibilidade quando recuperamos de ir ao chão) ou bosses que nos tiram uma vida apenas com um golpe (mas também podemos fazer o mesmo). Diria que o jogo em Very Hard é um bom desafio até porque há mais inimigos, logo mais chance de pontuar e ganhar vidas extra, bem como alguns bosses aparecem aos pares.

E a trashalhada começa aqui!
Se for caso disso, podem tornar a experiência mais fácil com outros jogadores visto que o jogo suporta até 3 em simultâneo caso tenham um multi tap (isto desbloqueia-se via código). Se tiverem uma MegaCD podem usar o player 2 a ser controlado pela própria MegaCD e segundo o Gonçalo, o desempenho do computador é bastante decente e ajuda imenso nas dificuldades elevadas. A 32X também parece ter alguma funcionalidade extra mas não posso precisar ao certo o quê pois nem eu nem o Gonçalo temos uma para testar. Curiosamente existem algumas pequenas diferenças entre a versão ocidental e a versão Japonesa, onde esta última tem umas coisas extra como por exemplo aparecer o nome da faixa que estamos a ouvir no ecrã, um combo counter e o Showtime aparecer no canto do ecrã sempre que atingimos um inimigo com um projéctil. Ora isto também está presente na versão ocidental via código no ecrã de pausa, ou desbloqueado por defeito na dificuldade Paprium (a máxima).

Showtime!
Já se sabe que este jogo esteve envolto em polémica desde o início do seu desenvolvimento com um ciclo atribulado do mesmo, má comunicação entre o boss da WaterMelon que não é visto com bons olhos por muita gente entre outros cambalachos. Se quiserem saber mais podem ver os excelente vídeos que o Gonçalo fez sobre o assunto no seu canal do YouTube, St1ka's Retro Corner tornando-o assim numa espécie de autoridade sobre o que se passou, graças ao seu exaustivo trabalho de pesquisa e documentação.

Estas máquinas dão sempre jeito.
Bom, e agora perguntam vocês... qual a melhor maneira de jogar Paprium? Infelizmente a única é mesmo na Mega Drive pois o jogo não saiu para mais nenhum sistema, mesmo tendo iniciado um novo Kickstarter em Outubro de 2021 para ser lançado nas plataformas actuais. Até agora nada. Emulação também está fora de questão visto o jogo apenas correr numa versão modificada do Mame, onde o som parece nem funcionar (ou funciona mal), coisa cujo progresso está a ser documentado numa conta de Twitter. A única coisa que funciona em emulação é o mini jogo denominado por Paprium Mini (foi a única coisa que consegui dumpar deste cartucho) entre a comunidade, que é algo que aparece na primeira vez que se mete o jogo na consola ou aparece quando o cartucho detecta uma consola modificada, clone ou algo dentro desses parâmetros que não seja as originais. Portanto, o melhor é esperar por uma versão para as máquinas actuais pois o preço do jogo subiu em flecha desde o seu lançamento onde o preço era mais acessível (cerca de 80€ com portes) e agora chega aos cerca de €445 (Limited Edition) por um exemplar usado e ainda mais se for a versão Genesis.

Ele não aprendeu isto com o Axel...
Esta foi provavelmente a análise mais extensa que escrevi aqui no blog e se calhar ainda me esqueci de algo mas tinha de o fazer pois o conteúdo assim o justifica. E também porque provavelmente é a única escrita em Português visto não encontrar mais nenhuma. Assim sendo fica aqui para a posteridade, para quem quiser ler e saber o que esperar, bem como a minha opinião sobre o mesmo. Não é perfeito, não está na minha colecção mas é sem dúvida um JOGALHÃO DE FORÇA!

MURRALHÕES DE FORÇA:


Sem comentários:

Enviar um comentário